quinta-feira, 27 de maio de 2010

SHELLAC + MISSION OF BURMA, Auditório de Serralves, 25 de Maio de 2010


Talvez o formalismo do recinto não tenha sido uma boa opção. Talvez as cadeiras de couro fossem dispensáveis. Talvez a dimensão do palco fosse exagerada. Talvez... Demasiados constrangimentos não impediram, contudo, que o auditório de Serralves fosse um obstáculo para os Shellac. Tocar para uma plateia sentada é para a banda, como reconhecido, uma anormalidade. Sentindo, em parte, esse desconforto, Steve Albini não resistiu e ao fim de alguns temas convidou a plateia a juntar-se na frente de palco para que a fruição fosse, para ambas as partes, mais genuina. A resposta não foi massiva e só alguns responderam ao desafio, embora a maioria se tenha levantado. Até aí, já o concerto tinha provado a excelência dum triunvirato instrumental que faz dos Shellac uma máquina intemporal de rock e um verdadeiro caso de genialidade. À brutalidade eficiente da bateria de Todd Trainer e ao baixo carregado e minimalista de Bob Weston, junta-se a guitarra imaculada de Albini, uma receita sonora cuja potência é elevada, não ao quadrado, mas, obrigatoriemente, ao máximo. Não faltou a já clássica sessão de perguntas e respostas comandada por Weston, abortada rapidamente e de forma hilariante quando alguém o questionou sobre qual a parte mais bonita do seu corpo...
Balls respondeu Albini! Com o fabuloso The End of Radio, uma das diversas escolhas do alinhamento retiradas do último disco, o concerto chegaria ao final, depois da retirada faseada dos instrumentos do palco e que incluiu a desmontagem ensaiada da bateria e o transporte do próprio baterista, para gaudio da plateia rendida. Um concerto sóbrio, com excelente som e iluminação e a prova que à fama se pode e deve juntar sempre a humildade.


Antes dos Shellac tocaram os Mission Of Burma, um outro caso de longevidade e, já agora, de preserverança. Destaque para o guitarrista Robert Miller, um virtuoso no comando de outro trio agitador que carregou, sem rodeios, no acelerador. Em alguns dos temas, coube a Peter Prescott dar o mote detrás da bateria, com apelos de rebelião contida, que na maioria das vezes foram permeados com longos e solos de guitarra, mas coube a Miller e ao baixista Clint Conley assegurar maioritariamente as vozes. Um excelente aquecimento e também uma óptima oportunidade para descobrir uma banda cujo nome sempre conhecemos mas, tal como grande parte dos presentes, nunca ouvimos seriamente. É para isto que os concertos também servem.

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