segunda-feira, 21 de novembro de 2011

TORTO + LAETITIA SADIER + NO KIDS + LEE RANALDO + DEAN WAREHAM, Clubbing, Casa da Música, 19 de Novembro de 2011


A ementa da noite Clubbing de sábado passado era, no mínimo, suculenta. Uma aura indie concentrada em nomes que remetiam para os Stereolab, Galaxie 500 ou Sonic Youth mostrava-se muito atractiva até para nuestros hermanos, atendendo à quantidade sonante de castelhano ou galego que por lá se ouvia, tendo a casa recebido uma moldura bem composta. No entanto, o que nos parece é que para este tipo de eventos (leia-se concertos simultâneos e de alguma intimidade), o local apresenta-se problemático, inadaptado e maçador. Já lá vamos.

A jogar em casa, os Torto, que faziam a sua estreia no palco mais pequeno (Sala 2) perante alguns curiosos, como nós, que arriscaram não ganhar lugar na sala grande (Sala Suggia), não desiludiram com a sua massiva e crescente dose de experimentalismo rock, onde uma bateria e baixo vincados se juntaram de forma convincente à guitarra de Jorge Coelho, tudo muito Tortoise, pois claro. Prometedor. 


Agora havia que descer rapidamente para o auditório maior onde Laetitia Sadier, cumprindo o horário, tinha já começado a cantar. O congestionamento junto das portas de entrada situadas a meio do recinto era já assustador e depois de conseguirmos penetrar só restavam, obviamente, lugares na segunda plateia. A cada trinta segundos, a sala era literalmente atravessada por mais gente a entrar, gente a sair, conversas em alta voz, procura de amigos e conhecidos ao telemóvel enquanto a ex-Stereolab lá continuava em palco para desprezo e desconhecimento de muitos. Pelo pouco que conseguimos ver e ouvir, Laetitia não parece ter deixado muitas saudades. Em relação ao concerto que presenciamos no Passos Manuel o ano transacto, a imensidão da sala não absorveu da melhor forma a pop conseguida no álbum “The Trip”, já que a solo e naquelas condições, a receita não funciona. Sadier contou as mesmas histórias já ouvidas (p. ex. que em pequena sonhava conhecer dois locais: a Austrália e o Porto...) e lançou, sem êxito, para desanuviar o ambiente frio, alguns comentários desconexos alusivos, por exemplo, à próxima greve geral... Tá bem, estava na hora certa para tornar a subir a escada rolante.

Aí, sozinho em cima do palco estava Nick Krgovich, mentor e líder do trio canadiano No Kids e do projecto Gigi. Mas não estavam anunciadas como bandas? Ainda esperamos, em vão, que os restantes elementos surgissem, mas o logro parecia confirmar-se (pelo menos seria mais sincero anunciar Krgovitch a solo já que, como o próprio confirmou, os Gigi são para aí uns trinta e nunca deram um concerto!). Mesmo assim, servindo-se da sua voz segura, de samplers e um único teclado, a curta apresentação serviu para demonstrar as muitas potencialidades dos seus projectos pop. Entre novos temas, faltaram mais canções do magnífico disco de estreia “Come Into My House”, embora “Bluster In the Air” tenha conquistado imediatamente a atenção dos poucos aderentes. Surpreendeu ao terminar com uma versão ritmada de um tema de David Lynch a que responderam alguns com uma inesperada sessão de dança. Mesmo assim, não deixamos de sentir um travo amargo de desilusão.




De regresso ao piso inferior, a confusão agudizou-se. Enquanto Lee Ranaldo já em palco concentrava a atenção da primeira metade da sala, cujas portas de acesso situadas mais perto do palco se mantiveram, e muito bem, encerradas, na plateia da rectaguarda viviam-se momentos ao jeito de uma estação de metro: uns levantam-se, muitos sentam-se, uns preferem “viajar”de pé, outros conversam sobre futebol (“quem é o gajo? Lee Ronaldo!”), trocam-se piropos... Só faltou o sonoro “Próxima estação: Casa da Música”! Fartos de ser incomodados para deixar passar mais “paraquedistas”, só a muito custo lá conseguimos um lugar na terceira fila para as ultimas três músicas. Ufa! Rodeado por quatro guitarras acústicas, Ranaldo esteve igual a si próprio, isto é, brilhante instrumentista (embora com alguns precalços nos pedais), não tão bom cantor, mas, mesmo assim, a arriscar e experimentar muito pouco. Tempo para uma dedicatória ("Angles", ver video abaixo) a alguns bons amigos que vivem tempos atribulados, certamente pensando no processo de divórcio de Thurston Moore e Kim Gordon. Bom, mas devia (podia?) ter sido melhor. 


Já depois da “hora de ponta”, a sala principal, bem mais calma, recebeu o senhor Galaxie 500/Luna, Dean Wareham. A cada canção, rapidamente reconhecida por muitos fãs presentes, a banda afirmou-se pela sua competência instrumental, quer pelos solos irrepreensíveis de Wareahm mas também pela sobriedade da esposa, a baixista Britta Philips (Dean And Britta), que chegou a (en)cantar em alguns dos temas. Bem recebidos, tiveram até direito a merecido encore. 


Quanto a Mt Eerie, ainda nos esforçamos por subir a escada novamente, mas o acesso estava já em sentido descendente, ou seja, ala para casa dormir.   

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