terça-feira, 24 de maio de 2016

(RE)LIDO #76





















TARÂNTULA
de Bob Dylan. Vila Nova de Famalicão; Quasi Edições, 2007
O senhor Robert Allen Zimmerman faz hoje 75 anos. Será ainda esse o nome que constará do seu bilhete de identidade embora o próprio tenha assumido que tal baptismo tinha algo de errado e não descansou enquanto não encontrou uma alternativa que soasse melhor. Bob Dylan foi então, antes de fazer 20 anos, o alter-ego assumido que rapidamente se tornaria sinónimo de talento. A partir de 1962, ano a ano, álbum atrás de álbum, Dylan confirmaria ao mundo o arrojo e a inquietude das suas canções logo eleitas como hinos de uma sociedade em efervescente mutação. Em 1966, num desses picos criativos, aquando da gravação de "Blonde On Blonde", lança-se na aventura inédita de escrever um livro ficcional rotulado de "maldito" e que só veria a luz do dia oficial em 1971 depois de muitos "bootlegs" sacados aos revisores tipográficos. De que é que trata então este "Tarântula"? À pergunta impressa numa das badanas desta edição portuguesa corresponde uma lapidar expressão - "Bob Dylan a exprimir o inexprimível" - que, mesmo assim, não pode chegar para resumir uma obra que mistura poesia e prosa de forma quase anárquica e caótica, uma imagem de marca da Beat Generation que Dylan bem apreciava. Lidas no silencio, muitas das supostas histórias sugerem divagações líricas muito ao jeito de uma época de protestos e acessos libertários que certamente resultaram para o próprio em pura diversão e gozo. A colecção de experiências atinge rapidamente um surrealismo sem qualquer roteiro ou enredo que entrelaça vivências diárias, vénias sarcásticas a artistas como Aretha Franklin ou Lead Belly, personagens e figurões, viagens ou paisagens sem que se determine a racionalidade ou até o humor de muitas das situações e citações. Imaginamos a árdua tarefa do tradutor Vasco Gato em concretizar e deslindar tamanha teia, mas atendendo a que não há forma de comparação, o resultado é, no mínimo, desconcertante e com muitos adeptos. Preferimos, claro, o primeiro volume das crónicas surpreendentes que Dylan fez sair em 2004 ao jeito de memórias e que infelizmente não tiveram, até hoje, continuação, esperando que pelo menos as suas canções como a maravilhosa "I Want You" continue a servir de inspiração a projectos educativos... e parabéns!                            


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